sábado, 25 de fevereiro de 2012

Brevemente

Brevemente o inesperado vai chegar,

O Ghost vai voltar a sussurrar...

Uma estreia pela GhostProductions!

Algo antes visto...

domingo, 5 de julho de 2009

O Palco da Vida

"O verdadeiro actor é aquele que, quando não pode falar com palavras, fala com expressões, porque o verdadeiro actor nunca está calado"

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Frases do Dia

"Sofremos muito com o pouco que nos falta e gozamos pouco o muito que temos"
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"É muito melhor viver sem felicidade do que sem amor"
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"Consciência é uma palavra usada pelos covardes, para incutir medo aos fortes"
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"O destino é o que baralha as cartas, mas nós somos os que jogamos"
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"É comum perder-se o bom por querer o melhor"
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(William Shakespeare)
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Nota Histórica: Nascido em Inglaterra, em Stratford-upon-Avon, a 26 de Abril de 1564 (data de seu baptizado), William Shakespear foi o maior dramaturgo inglês e considerado um dos maiores escritores de toda a Humanidade. Escreveu 38 peças e inúmeros sonetos e poemas... Na sua versatilidade escreveu tanto comédias como os mais grandiosos dramas da literatura. Shakespeare provou com a sua existência e engenho que um simples homem se pode tornar numa lenda, num icon, se pode elevar a um outro patamar mais alto, mais perto daquilo que se considera divino... Com a sua pena encharcada em tinta bruta e rude, escrevinhou em papel pobre e áspero as mais primorosas obras de toda a arte dramática com uma imaginação sobre-humana, uma precisão exímia, uma versatilidade perturbante. Com uma simples pena criou, escreveu, concebeu, imaginou...

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Foto do Dia


CULPADO!

Numa certa noite, após longas horas noctívagas de estudo exaustivo, guiava o meu carro em caminho a casa! Era de madrugada, cerca de 4 ou 5 da manhã!

Já estudava à demasiadas horas para estar na plenitude das minhas capacidades. Os reflexos estavam lentos, imprecisos. Os olhos, já cansados dos livros, demoravam a captar as imagens que surgiam continuamente. O meu corpo estava cansado, pesado, da fatiga das horas e do dia longo que tinha corrido.

Tudo naquele momento parecia propenso a acidentes...

Parecia que estava destinado, num momento descia a avenida calmamente, na penumbra da noite profunda, nas ruas isentas de outros carros. O único som era o rebombar do meu motor, as únicas luzes eram as dos meus faróis e dos candeeiros que ladeavam a avenida. Logo no momento seguinte, um vulto emergido do vazio, da escuridão da noite, cruzou a estrada em que me encontrava.

Reduzi a velocidade, pressionando o travão ligeiramente. Parecia-me um gato, e dado que os animais são totalmente imprevisíveis nas suas decisões, desacelerar era o mais acertado para nalguma eventualidade ter espaço e tempo para reagir.

Foi tudo demasiado rápido, tudo demasiado iminente. Estava demasiado cansado para reagir mais depressa e, mesmo assim, ainda hoje me questiono se estivesse menos exausto se seria diferente, se fossem cinco da tarde e não cinco da manhã se teria podido evitar...

Outras duas massas irromperam atrás da primeira, mas desta vez já me encontrava muito próximo, não tinha reduzido a velocidade o suficiente para estes dois novos vultos, apenas me tinha preparado para o primeiro.

Travei a fundo, em urgência. Ainda me tentei desviar, mas fora demasiado tarde, por mais que quisesse estacar o carro antes de me lançar sobre os pequenos animais nada havia a fazer.

Senti a roda dianteira esquerda a levantar, num solavanco. No entanto, não era uma caixa de cartão, uma lata de refrigerante ou outro qualquer objecto, era um ser vivo que deslizara por debaixo da minha roda.

Só consegui imobilizar o carro uns metros mais à frente.

Queria negar o que acontecera, simplesmente não queria fazer-me acreditar no que acabara de suceder. Por um milionésimo de segundo passou-me pela mente, pelo inconsciente culpado, em partir, em convencer-me de que nada acontecera, que fora imaginação. Tentava justificar: "Se calhar não lhe acertei.", "Se calhar está bem, foi só um raspão!".

Logo me deixei de fantasias que seriam bem mais doces que a realidade (mas não estamos nós habituados a estas desilusões que a realidade nos traz, tão amarga que é, que nos corrompe os devaneios?). Tomei uma postura fria, "calculista", pragmática...

Dei a volta à rotunda logo abaixo, contornei outra rotunda acima do local e retomei o lugar onde o trágico evento tinha decorrido. Estacionei no passeio.

Finalmente estava pronto para encarar a angústia que se seguiria...

Ali estava, distendida na berma da avenida uma pobre cadelinha.

O choque inundou-me a alma, a mente, o coração...tudo o que era possível preencher com dor acabou a abarrotar de mágoa!

Era bebé, uma cadelita linda, branca malhada de preto ou preta malhada de branco, perfeita, tão diminuta, tão afável, tão jovem ainda...

Sem duvida que o destino é traiçoeiro, azedo, se não o fosse porque sacrificaria uma tão adorável cadelita ainda nos primórdios da sua vida? E mais, porque me escolheria a mim, um amante de animais e especialmente apaixonado por cães, para ser o carrasco deste pequeno animal?

Sem tempo a perder, telefonei para a minha namorada - tendo-a deixado à pouco. Com impaciência resumi-lhe a história e pedi-lhe para, na internet, descobrir um veterinário que estivesse aberto aquela hora.

A cadelita ainda estava viva, mesmo porque enquanto tinha ido dar a volta às duas rotundas para retornar àquele lugar ela tinha-se deslocado para o passeio... Podia haver esperança!

Entretanto, apercebi-me que os outros dois irmãos daquele ser em sofrimento se tinham encaminhado para uma casa que se erguia mesmo ali, colada ao passeio, vigilante, na avenida. Corri para um quintalzinho aberto que havia nas traseiras, lá estavam os outros cachorrinhos e outros tantos cães...

Chamei, aguardando que alguém acudisse e esperando que fossem os donos da cadelinha!

O quintal era descuidado, os cães, alguns presos outros não, pareciam "semi-abandonados". Desde logo vi o estilo: "têm cães só por ter, não lhes prestam atenção nem se importam"!

Cedo, as minhas previsões vieram-se confirmar quando uma senhora veio de dentro da casa, alerta a tentar perceber o que se passava aquelas horas da madrugada.

Rapidamente expliquei-lhe o que se tinha sucedido e ela juntou-se-me para ir observar a cadelita. Respondeu algo do género: "Pobrezinha!"- num tom tão frio, tão vazio que logo me espantou a sua falta de amor por aquele ser tão encantador - "Pois, mas já estava à espera, eles andam para aí na vadiagem e depois olha, dá nisto. Olhe, não sei que lhe diga...Desculpe, é tudo o que lhe posso dizer." - novamente tão vazia e ainda me pedia desculpa?

Recebi uma chamada da minha namorada! Ela achara uma clínica em Cascais que estava aberta 24 horas.

Ainda assombrado pela indiferencia da mulher, disse-lhe: "Eu é que tenho de pedir desculpa, mas eles vieram do nada, ainda travei mas não consegui parar a tempo! Mas não se preocupe que vou levá-la ao veterinário."

"Ah, não se preocupe com isso, não é nada que não tivesse à espera. Deixe-a aqui e pronto, logo se vê o que acontece."

Juntara-se a nós a filha da senhora que acordara com a confusão. Esta demonstrava um pouco mais de apreço para com a cadelita - quando a viu no chão ensanguentado correu a chorar gritando "Trinca, Trinca!". Esse era o nome da pobre cadelita...

Logo de seguida, a minha namorada unira-se a nós pronta para seguirmos para a clínica que ela desencantara.

Antes de partir anunciei à senhora "Vou agora para um veterinário e depois digo-lhe qualquer coisa!"

Já quando entrava no carro ela respondeu: "Tem a certeza? Eu não tenho dinheiro para pagar dessas coisas! Não se preocupe com ela, acho que vai morrer de qualquer maneira!" - mas eu já não ouvi os disparates daquela mulher.

Entrei no carro e preguei a fundo com a Trinca enrolada numa toalha ao colo da minha namorada, agora angustiada e chorosa, em desespero - tal como eu estava, por detrás daquele escudo frio e objectivo que me protegia e me deixava raciocinar!

Acelerei pelas ruelas, subi a avenida 25 de Abril até chegar à tal clínica veterinária que supostamente estaria aberta 24 horas. No entanto, quando corri para confirmar se estava alguém de serviço, deparei-me com a porta fechada.

Telefonei à minha irmã a perguntar se ela se lembrava de alguma outra solução. Ela indicou-me um outra clínica em Oeiras que, telefonando, um veterinário vinha de urgência.

Assim o fiz, enquanto corria a marginal em caminho ao centro de Oeiras, telefonei para o número das urgências de onde me garantiam que demorariam cerca de meia hora!

O mais rapidamente que pude, atravessei a marginal, mas parecia lento demais a cada gemido que a cadelita soltava. Cada insinuação de dor que a Trinca gritava, fazia-nos sofrer com ela.

Cheguei à clínica bem antes do médico. Esperei em angústia que chegasse.

Quando a médica chegou apressada corremos para o interior da sala de consultas. Deitei a Trinca na mesa apropriada enquanto a veterinária preparava-se para a analisar.

Estava tão branca, pálida de sofrimento. Parecia que a vida lhe escapava, fluindo com o sangue, pela patinha esmagada. Só agora me apercebia de como ela se encontrava, fraca, manchada de encarnado, algum ainda vivo e outro já ressequido.

Estava louco de preocupação, cada encher do seu peito relaxa-me, cada gemido infligia-me dor mas ao mesmo tempo descansava-me, garantia-me que ainda vivia...

A médica começou a observá-la, após o relato do sucedido.

Abriu-lhe a boca mínima, desistente, e viu-lhe as gengivas descolorida.

"Ela está muito pálida, perdeu algum sangue. Vou começar por pô-la a soro!" - disse.

Durante todo o processo de lhe ligar a corrente sanguínea a uma agulha que lhe depositava continuamente o soro no plasma, a Trinca nem estremecia, imóvel suportava o manuseamento da médica num último esforço de agarrar a vida que lhe escapava.

Após observações contínuas:

"Temos de lhe fazer um raio-x."

Lá fomos, peguei na cadelinha e levei-a para a sala do raio-x. Deitei-a numa mesa e esperámos a máquina aquecer para lhe tirar a imagem do seu corpo frágil.

Enquanto isto, vesti um fato de chumbo (para me proteger das radiações) e aguardei. Finalmente, a veterinária fez-lhe o esperado raio-x e, novamente, aguardámos que a imagem estivesse pronta.

Com o rosto abatido a médica dirigiu-se a mim com o veredicto:

"Ela está muito mal. Tem as patinhas de trás desfeitas e rompeu o abdómen, estando os seus órgãos fora do sítio. Temos duas hipóteses: Ou operamos, tentamos fechar o buraco no abdómen e colocamos os órgãos no sitio certo, e depois fazemos uma cirurgia de ortopedia para rectificar as patas, talvez precise de próteses. Isto vai ficar muito caro e não há garantias que ela sobreviva. Ou então, pomo-la a dormir" - terminou, cabisbaixa, dando a entender que a segunda hipótese seria a mais acertada, apesar de não o poder dizer abertamente de modo a não me influenciar.

Saí da sala, agora estava devastado. O caminho que antes se abria numa esperança ténue, tinha-se fechado definitivamente num final inevitável. Fui ter com a minha namorada e dei-lhe a conhecer o parecer da doutora. Ela chorou, deixou as lágrimas fluírem livremente. Entendemos que tínhamos chegado ao momento de decidir e era óbvia a decisão mais acertada.

Não estenderíamos mais o sofrimento da pobre Trinca, mesmo que ultrapassasse as várias cirurgias teria muitas incapacidades pela frente, para além de que todo este processo envolvia gastar uma fortuna que não possuía!

Fui ao encontro da veterinária para lhe anunciar a minha decisão.

"Vamos então pô-la a dormir" - disse-lhe com toda a convicção que consegui reunir.

"É o melhor para ela!" - reconfortou-me - "Podem-se se despedir dela que eu volto já."

Enquanto isto, a médica foi buscar a seringa que continha o fluído que deixaria escorrer a vida para fora do corpo da Trinca.

A minha namorada despediu-se brevemente, sempre chorosa, desfeita.

Logo de seguida, chegara a minha vez. Aproximei-me, debrucei-me e despedi-me. Pedi-lhe desculpa por tudo o que lhe fizera passar. No meu interior sentia uma enorme compaixão por aquela cadelinha bebé que conhecia há tão pouco tempo, mas que tinha tão rapidamente nos conquistado. Disse-lhe, então, adeus para sempre...

Chegou a veterinária com a seringa. Perguntou-me:

"Posso?"

"Sim, estamos prontos."

E assim fiquei a vê-la injectar aquele veneno que libertaria a Trinca da dor alucinante que transpunha, agora, com um último sopro, um último vibrar do corpo adormecido. Agora o seu espírito elevava-se, abandonando aquele corpo imóvel. Os seus olhos começavam a cegar com o sono eterno. A sua alma desvanecia-se demasiado cedo, ela era tão nova, tão pequena, tão delicada...

E eu, culpado da sua dor, da extinção precoce da sua vida, observava-a sozinho com todo o amor enquanto o último gemido se desprendia da garganta e a sua cabeça se deixava cair num último gesto, pronta para o descanso perpétuo...

Apesar de todo o mal involuntário que lhe causei, apesar de lhe roubar assim tão impotentemente a sua existência, apesar de a ter atropelado, não senti que ela me acusasse, que possuísse ressentimento ou rancor ou ódio. Apesar da barbaridade que se sucedeu, apesar da injustiça, penso que ela não só não me julgou como também se deixou embeber pelo o amor que nutrimos por ela e ainda o retribuiu!

Essa simplicidade de aceitação e de absolvição tornou-se numa lição, lição essa que não esquecerei...